Motoristas que sentem pavor e até choram quando pegam no volante buscam aulas e apoio de psicólogos para superar traumas
Paralisar completamente diante do volante. Sentir o coração disparar, suar frio, ficar com a visão turva, chorar. Ou simplesmente nem cogitar a possibilidade de sentar no banco do motorista e ligar o carro, mesmo tendo habilitação para isso.
Essa é a amaxofobia ou, para simplificar, o medo de dirigir. É um distúrbio psicológico que atinge 6% dos brasileiros habilitados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Outro dado que surpreende vem da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego: 80% dos que sofrem do mal já têm carteira de motorista. Para vencer o medo, muitos estão buscando aulas particulares específicas para isso ou contam com a ajuda de psicólogos.
“É possível desenvolver o medo de dirigir por vários motivos. Ele pode surgir por um trauma causado por acidente, inseguranças e pelo excesso de cobrança de outras pessoas ou da própria pessoa”, analisou o psicólogo Wendell Coutinho.
Ele ressalta que cada caso precisa ser analisado individualmente, mas que nem sempre é possível descobrir o que está causando esse medo. No entanto, mesmo nesses casos, é possível tratá-lo.
O instrutor particular Thiago Paes de Jesus trabalha neste segmento há nove anos. Ele conta que já lidou com crises de choro e desespero, mas também muita superação de motoristas ao pisar no acelerador.
“Ajudamos as pessoas com esse bloqueio, que muitas vezes vem de traumas. Fiz cursos de comportamento para entender e atender melhor essas pessoas”.
Na visão de Thiago, as auto-escolas acabam ensinando somente o básico, o suficiente para passar na prova. “Por isso, para começar, sempre faço uma avaliação para saber o nível do habilitado e só então começamos o trabalho”, explicou.
A assistente social Noemia Nascimento Butzk, 41 anos, é uma de suas alunas. Ela é habilitada há mais de 15 anos, mas não dirigia por medo.
“Depois de tanto tempo, só comecei a pegar o carro no mês passado, para ajudar minha mãe, após a morte do meu pai. Só ando distâncias curtas. Mas, nas próximas semanas já devo começar a dirigir para ir ao trabalho”, diz Noemia, confiante.
Coragem para voltar ao volante
A empresária Fabiana Andrade, de 35 anos, conseguiu a sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) há dez anos, mas ficou a maior parte deste tempo sem pegar no volante do carro.
“Sempre que eu precisava dirigir, ficava com muito medo, extremamente nervosa”, contou a moradora de Vila Velha.
Ela começou a fazer aulas particulares específicas para perder o medo de dirigir há dois meses, e vê evolução. “Agora consigo ficar mais tranquila, sem medo e sem me apavorar”, revelou.
ENTENDA
Amaxofobia
É o medo extremo de dirigir.
O termo vem da junção dos termos “amaxos”, que significa “carruagem”; e “fobia”, que é o medo irracional.
O que pode acontecer?
Desespero além do normal, aumento da frequência cardíaca, suor frio, visão turva, choro e claustrofobia (situação que envolve o medo de espaços fechados ou confinados).
De onde vem esse medo?
É possível desenvolver o medo de dirigir por vários motivos, como:
Trauma causado por acidente;
Excesso de cobrança de outras pessoas;
Excesso de cobrança do próprio motorista;
Ansiedade;
Falta de prática.
Como superar esse medo?
Não pense muito
O medo é um estado psíquico que surge quando pensamos em situações catastróficas que podem vir a acontecer no futuro. Quanto mais pensar nisso, mais difícil é começar a dirigir.
Escolha bem suas caronas
O medo pode vir pela cobrança de quem está ao lado. Evite pessoas que criticam muito, ficam apontando os erros ou são ansiosas.
Programe-se
Monte um calendário de atividades ao volante para cada dia.
Ajuda
Caso não resolva, busque uma ajuda profissional, com psicólogos ou instrutores específicos para tratar de medo.
Fonte:
https://tribunaonline.com.br/da-crise-de-choro-a-ajuda-para-vencer-medo-de-dirigir